Se há uma coisa que evito ver, são filmes. Deixarei
isso bem claro de primeira. Não porque eu não acho legal, mas sim, porque eu não
possuo tamanha paciência. Se eu vejo um filme sem ninguém me chamar, há motivos
muito bons para isso, ou é alguma adaptação para o cinema de algum livro, ou
algo que me surpreendeu muito. Nem na TV a cabo, com os pacotes de canais de
filmes e etc., vocês precisam acreditar: eu nunca vi nenhum. Entre filmes e
séries, fico com minhas séries.
Mas essa semana foi diferente, desde a semana do Oscar
(que eu não vi), ouvi e li muitas especulações sobre os ganhadores e os
indicados e um filme me chamou atenção: As aventuras de Pi. Várias pessoas
comentando em redes sociais, nota boa no IMDB, e assim, encorajei-me de baixar
o filme e vê-lo. Aí você imagina que um dia depois eu vi o filme e agora estou
escrevendo esse post. Se sim, está muito enganado. O Oscar foi ao ar no fim de
fevereiro, e só agora, em abril que fui ter coragem de ver o filme, isso porque
eu estava muito interessado, e me
surpreendi.
As aventuras de Pi é um filme maravilhoso, com quase
duas horas de duração que me fez parar e pensar sobre muitas coisas. Piscine
Patel – ou Pi – nasceu na Índia e viveu com sua família que era dona de um zoológico,
e lá na sua necessidade interior de procurar um Deus que agregou-se à três
religiões diferentes, até conhecer um tigre de bengala bem violento, cujo nome
é Richard Parker, que faz o menino pensar sobre tudo o que aprendera sobre
religião, proteção e divindades. Mas tudo muda quando sua família decide vender
os animais do zoológico para americanos e assim, eles partem da Índia para os
EUA, e depois para o Canadá, onde foi prometido moradia. No navio, Pi acorda em
uma noite de tempestade e fica maravilhado com o mar agitado, a chuva e a
tempestade, e momentos depois, o navio naufraga.
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contém spoilers –
Ao acordar em
um bote salva vidas, Pi, encontra-se perdido no alto mar, vendo somente água e
nada para salvá-lo, somente com a companhia de uma Hiena raivosa, um macaco,
uma zebra, um rato e Richard Parker (aquele que quase o fez desistir da
religião), e nisso segue pelo rumo das ondas, sem saber para onde está indo. O
filme é recheado de lindas imagens do mar, do céu e diversas coisas, o que me
fez ficar um pouco com receio por não ter visto no cinema em 3D, provando que o
Oscar de efeitos especiais que ganhou valeu à pena. Mas o que me deixou
surpreso com o filme não foi a fotografia (que é excelente), e os efeitos especiais
e etc., e sim a minha interpretação pessoal.
Além de tudo, As aventuras de Pi, é uma metáfora da
vida. Da vida toda em geral, Pi viveu até a adolescência rodeado de família e
sua vida comum, até acontecer o incidente de sair de seu país. O ato de
arriscar é algo comum na vida de cada um, que pode ser traduzido como a vontade
pertinente de “sair de casa”. Ao “sair de casa” Pi se viu sozinho, em um barco
com um tigre e rodeado de água. A representação dos nossos problemas é o
próprio Richard Parker, que está sempre rodeando o menino, encarando-o e
deixando aflito com a situação. Mas não há somente isso, o mar é severo, como a
vida. As tempestades ocorrem, quase derrubam o aventureiro, e há momentos de “seca”,
onde Pi enfrentou queimaduras, sede, desnutrição, e isso tudo é a vida em
segundo plano. Os problemas pessoais parecem importar mais com os de fora, mas
é preciso entender que o mundo também sofre suas alterações e por mais incrível
que pareça, nos afeta tanto quanto o mar e o tempo afetou Pi.
A busca pelo autoconhecimento é algo que Pi sofreu
constantemente, sua jornada foi árdua, até encontrar uma ilha maravilhosa,
habitada por Suricatos, e com água potável, e aparentemente com muita vida,
porém a noite, a ilha se transformava em um centro de destruição, onde a água se
transformava em ácido, matando peixes e assustando os animais nativos,
representando a potência de destruição da natureza – e o nome da ilha é até
Ilha da Morte.
No fim, Pi é encontrado em uma ilha no México e seu
grande amigo de viagem, Richard, desaparece entrando em uma floresta, deixando
ele na areia. Depois de serem resgatados, ao tentar contar a história para os
responsáveis do Navio, os mesmos não acreditam. Até eu teria um pouco de dificuldades
de acreditar em um adolescente contando que o navio afundou, sobreviveu por
dias em um bote com um tigre de bengala que não foi encontrado, é algo meio difícil,
mas por fim, Pi resolve inventar uma história envolvendo sua família e algumas
figuras (não tanto relevante) para eles, deixando passar a verdadeira história.
Como dito, tive que parar um tempo para pensar no
filme que vi, e conclui que a vida é isso, algo inexplicável, que não possui
respostas, mas precisamos seguir em frente e encontrar nosso próprio caminho
que certamente terá um barco, nossa vida pessoal, nosso próprio Richard Parker,
nossos problemas, o ambiente, o mundo exterior, e vários momentos de
felicidade, como ao encontrar a Ilha da Morte, e de angústia, ao descobrir que
a ilha era uma máquina de destruição, e continuar nessa jornada difícil e árdua
para alcançarmos o próprio conhecimento e perder o medo dela. É incrível como filmes
podem mexer tanto com o emocional e psicológico de qualquer ser humano, e se
você está precisando de algo filosófico, que te ajude a pensar e repensar sobre
os verdadeiros da vida, assista As aventuras
de Pi, garanto que o filme terá uma tradução maravilhosa para você.
“Acredito
que, ao final, a vida em si se torna um ato de desapego, mas o que sempre machuca
mais é não ter um momento para dizer adeus”
Nota:
5 estrelas.